De acordo
com a consultora de etiqueta Ligia Marques, criar perfis falsos nunca
será considerada uma atividade louvável. E, se o uso coerente da
internet não é tarefa fácil nem para um adulto, imagine então assumir o
discurso de uma criança. Mas, se a decisão de criar uma conta em uma
rede social qualquer para a criança for tomada assim mesmo, é
importante entender o limite entre dividir detalhes corriqueiros e
expor a vida de seu filho. Comentar as novas palavras do bebê ou
publicar que ele adora beterraba são detalhes corriqueiros – e
simpáticos. Descrever seu itinerário, revelar em que bairro vive e
postar toneladas de foto são exposição. “A mãe deve ter atenção para
postar informações que não excedam o caráter particular e privado de
cada pessoa da família. Todo conteúdo deve ser bem avaliado antes de ir
para a internet”, recomenda ela.
Karla Cristina Barbosa, de 27
anos, criou um perfil do Orkut para seu filho Ryan, de 3, quando ele
tinha apenas 1 ano. “Conheço várias mães que criaram Orkut para seus
filhos, até mesmo na minha família. Postamos fotos e participamos de
comunidades sobre crianças”, diz. Ela usa a rede para mandar notícias
do filho para os parentes e trocar informações com mães internautas
como ela. A jovem mãe admite que se preocupa com o fato das fotos
estarem desbloqueadas para quem quiser ver, mas não pensa em tirar o
perfil do ar.
Para Karla, no futuro, Ryan vai gostar da ideia de
ter feito parte da rede desde bebê. “Imagino que ele achará legal ter
tido Orkut desde criança, pois vivemos em um mundo onde as pessoas se
relacionam através da rede”, conta. A mãe pretende continuar postando
como Ryan até que ele aprenda administrar o perfil sozinho – o que não
deve demorar muito, já que ele já tem uma ligação muito forte com a
internet.
Voz virtual a bebês
Mas por que dar voz virtual a bebês quando eles ainda mal sabem falar
seus nomes? Para a psicóloga Luciana Ruffo, as intenções da maioria
das mães que criam estes perfis para seus filhos vão além de manter
familiares informados sobre o desenvolvimento dos bebês ou inteirar-se
de assuntos relacionados à maternidade. A inserção consiste numa
tentativa de integrar desde cedo os pequeninos ao universo virtual e
promover diálogos por estas redes, ações muito mais fáceis do que ligar
ou visitar um familiar ou amigo.
Por outro lado, as redes sociais também trazem vantagens na conservação da memória (veja como as novas mídias mudaram a forma de guardar as memórias da infância).
Elas podem guardar um acervo muito maior de registros sobre o
crescimento do bebê, com fotos, vídeos e descrições, pronto para ser
navegado quando ele já for grandinho. Basta se lembrar que determinadas
fotos e informações têm o mesmo potencial de constrangimento, seja em
um álbum de papel ou em um acervo virtual. “Mas esta geração é mais
tranquila em relação à exposição virtual e participar da rede pode
fazê-los sentir-se importantes”, completa Luciana.
Alternativa altruísta
Se
uma mãe pretende falar sobre os desafios da vida de seu filho na
internet, para inspirar outras mães ou mesmo para trocar ideias sobre
maternidade, Ligia Marques recomenda a criação de um blog. A ferramenta
permite a troca de ideias entre pessoas com a mesma afinidade,
transcendendo a função de vitrine.
Foi o caso da analista de importação e exportação Vivian Regina Peltier, de 27 anos. Ela criou o blog Vencendo com Breno
depois de superada a aflição de ver seu filho, prematuro extremo,
sofrer complicações pulmonares assim que nasceu. Vivian quis
compartilhar sua história a fim de ajudar mães como ela a superarem
problemas similares. E a iniciativa deu certo. “Muitas mães já entraram
em contato comigo e sugeriram montar uma ONG para ajudar na orientação
de famílias com bebês prematuros. Quero amadurecer essa ideia, mas
ainda passo por muitos contratempos de saúde com o Breno. Publico
sempre sobre vacinas que o governo fornece para bebês prematuros
extremos, tento ensinar diversos procedimentos de fisioterapia que
aprendi nos hospitais e por aí vai”, conta Vivian. A exposição já não a
preocupa. “No início pensamos muito nisto, mas conversei muito com meu
marido e concluímos que esta exposição seria por uma boa causa”,
completa.
Ela espera que Breno, quando maior, se orgulhe do
trabalho de seus pais e possa perceber que a luta diária pela sua vida
não foi em vão. Um refresco eterno – e um tributo virtual – para a
memória.
Fonte: Portal iG | Delas | Filhos | Ana Carolina Addario, especial para o iG São Paulo | 05/04/2011 16:51
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